20 julho 2014

O "Sábio" da Montanha - Capítulo 1

-Desde muito pequeno me vi cercado por essas montanhas. Tomei como objetivo escalar a mais alta delas, pois assim poderia ver tudo o que existia ao seu redor. Quando finalmente cheguei, fiquei maravilhado: quilômetros e quilômetros de vasto verde, diferentes formas de tudo o que nem em sonhos achei existir -contava o Sábio aos seus discípulos, relembrando orgulhosamente de seu feito -.

-Mas Mestre, desde vossa subida, nunca mais desceu?

-Nunca, Una. Não há necessidade de descer, uma vez que todo o sustento e sabedoria provém deste topo.

-Mas Mestre - disse Secunda -, como pode toda sabedoria provir de um mesmo lugar? E os sábios dos mares, geleiras e vulcões? Não há sabedoria nos outros lugares?

-Charlatões. Olhe a sua volta: não existe nada além dessas terras. Todas as histórias que ouvimos sobre esses montes de água salgada, ou congelada e principalmente desse fogo que jorra do chão, nada passam de contos fantasiosos. Aqueles que conseguiram subir no topo da montanha mais alta o sabem muito bem.

...Silêncio...

-Quartus! - Sussurrou Tercius - Acreditas que fomos enganados todo esse tempo? É possível que tudo sejam histórias? Que lástima!

-Não sei, Tercius. Realmente não vejo nada parecido com um mar ou geleira. E fogo do chão também não se vê por aí. Psiiiu! Quinta! Quintaaa!

-Sim? - Respondeu Quinta. -  

-Que achas de tudo isso?

-Podemos nos reunir no jardim após essa aula. Chamarei Una e Secunda também. Agora quietos antes que o Mestre veja!

...Depois da aula, no jardim...

-Eu não acredito! - Exclamou Una. -

-Você não é a única. Tercius e eu nos questionamos durante a aula.

-Também não acredito, mas é verdade que aqui existem recursos para muitas vidas! Que importa se essas histórias são verdadeiras ou não? Se vou viver na montanha, o conhecimento dela me basta. Vocês estão procurando meios de se desvirtuarem. Não participarei disso - disse Secunda, retirando-se para seu aposento -.

Os quatro restantes se entreolham cabisbaixos e o silêncio toma conta da euforia. Até que...

-Eu me importo! Não quero viver de mentiras! E se tiver alguém lá fora, bem longe daqui, que diga que a montanha não existe?! Que não passa de invenção na boca de um charlatão?! Não concordo com isso. O Mestre diz "olhe a sua volta", mas e se a montanha não for o lugar mais alto de todos? É óbvio que nunca veríamos o mar e todas as outras coisas! - Dizia Una, enquanto apontava para tudo que se podia ver dali de cima e que não a convencia de que só podia haver aquilo. -

-É verdade. Eu não gostaria que mal dissessem nosso Mestre só por falta de conhecimento. Onde está a sabedoria nisso? Estou curioso. Muito curioso. Ouvi dizer maravilhas do mar... Dizem que as terras perto dele são planas, que a água cresce, vai se enrolando, vem e volta sem parar... Eu adoraria ver um fenômeno desses! - Quartus, em seus devaneios sobre como o mar é tão mais interessante que a montanha. -

-Gostaria de ver vulcões - disse Tercius -. Imagine que tipo de força ou ser é capaz de fazer fogo sozinho e numa quantidade incalculável, sem que ninguém nunca desvende seu segredo...

-Está decidido: partirei amanhã para uma "Jornada de Conhecimento" - Una, com o olhar fixo no horizonte e punhos fechados  -.

-O QUE?! - Tercius, Quartus e Quinta, uni sonoramente perplexos -

-Foi o que ouviram. Não acredito que mentiras tomem proporções tão grandes... Elas têm que ter alguma verdade. E algo dentro de mim pede que eu vá atrás dessa verdade.

-EU TAMBÉM VOU! - Tercius e Quartus, (para fugir das aulas do Mestre) acharam mais digno procurar saber antes de julgar. -

-Porquê não consultamos a Sacerdotisa primeiro? De repente ela tem algum ensinamento que possa ser útil em nossas jornadas, ou alguma dica - Quinta, ainda incerta sobre o que iria fazer a respeito -.

-Ela é muda e vive trancafiada naquela capela... Em que espera que ela possa ser útil? Chegou aqui junto com o Mestre, só conhece o que ele conhece... Mas claro, não faz mal tentar... - Una, desacreditada da idéia -

...CONTINUA...

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